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Indiana Jones e a relíquia do destino [Filme - Analise]

 


Se existe uma franquia de filmes que eu amo, é Indiana Jones. Eu adorava assistir à trilogia original com o meu pai. Os filmes transmitiam um sentimento de aventura e exploração que marcaram a minha infância, e guardo ótimas memórias desses momentos. Agora, Indiana Jones está de volta em mais uma aventura, o que me deixou inicialmente feliz, mas também preocupado. Afinal de contas, o novo filme honrará o legado do meu historiador e explorador favorito, ou será apenas mais uma tentativa de ganhar dinheiro fácil?


O que é Indiana Jones?


    Pois bem, caro leitor, Indiana Jones é um professor de arqueologia. No entanto, nas horas vagas, ele pega seu chapéu e chicote e parte pelo mundo distribuindo socos e pontapés em nazistas, além de recuperar obras de arte e artefatos valiosos. Criado por George Lucas e Steven Spielberg, o herói possui referências a personagens da década de 30, seja do cinema, quadrinhos ou livros (ficou bem wikipeadia isso).


    Indiana Jones tornou-se um sucesso, uma franquia que arrecadou mais de 1 bilhão de dólares no total. Apenas "O Reino da Caveira de Cristal" faturou mais de 700 milhões de dólares em bilheteria. Isso sem mencionar o valor comercial da marca, que inclui um desenho da década de 90, jogos em inúmeras plataformas, além de outras mídias, brinquedos e produtos relacionados. Indiana Jones foi nomeado o sexto maior personagem do cinema pela revista Empire. Com uma franquia de tanto sucesso, que carrega um nome de peso e atravessa gerações, o que poderia resultar disso? Um FILME QUE BUSCA LUCRAR COM A NOSTALGIA! Naturalmente, após 15 anos desde "O Reino da Caveira de Cristal", estaria na hora do rato mais famoso (e filho da mãe) do mundo tentar conquistar um dinheiro fácil, certo? Ou será que não é tão simples assim?




A Relíquia da Nostalgia

"A Relíquia do Destino" surgiu como uma celebração, não uma celebração qualquer, mas sim a celebração da "última" (explicarei mais abaixo por que o uso de aspas) grande aventura de nosso querido Indiana Jones. Mais uma vez, o destino convocaria Indiana para mais uma grandiosa jornada, reunindo amigos e inimigos do passado. O departamento de marketing fez um ótimo trabalho, com trailers que intercalavam cenas das aventuras clássicas com cenas da nova produção, tudo apresentado com um visual deslumbrante, embalado pela icônica música clássica e uma frase de efeito marcante.

Eu comprei o sentimento de nostalgia, comprei a ideia de ver uma última aventura do meu arqueólogo favorito (agora beirando os 90 anos... Ok, exagerei, Harrison Ford tem 81 anos). Eu queria reviver aquele sentimento de aventura e descoberta que os filmes do Indiana Jones tinham e que raramente os filmes de aventura hoje em dia tem. EU QUERIA DESCOBRIR O QUE ERA A RELÍQUIA DO DESTINO! EU QUERIA VER MAIS UMA VEZ INDIANA JONES (repetindo o nome pela 10ª vez neste tópico) ENFRENTANDO NAZISTAS!

O filme finalmente lançou, fui à estreia e... bem... demorei um mês e pouco para me recuperar da péssima experiência cinematográfica que tive.



O filme não tem nada de 'lacração', 'empoderamento feminino forçado' ou 'agenda woke', como muitos divulgaram. O filme é puramente uma venda de nostalgia depressiva. Aquela clássica história em que o herói, que viveu inúmeros momentos de glória, agora está caído, assolado por perdas pessoais e sem esperança no futuro. No entanto, a vida lhe dá uma nova aventura para reviver os momentos gloriosos.

A vontade de vender nostalgia é evidente desde o início, com Harrison Ford totalmente em CGI, em um cenário repleto de CGI, onde até as armas são em CGI. Até o desfecho, com a música temática e as piadas clássicas, transformaram o filme em algo maçante com tentativas de sentimentos nostálgicos forçados.

O filme não dedica muito tempo ao desenvolvimento dos personagens. Temos apenas o grupinho dos três principais (Indiana, o esquecível menino e Helena). O desenvolvimento de Helena é até """"aceitável""" (na verdade é raso mesmo), embora contraditório em alguns momentos. O menino esquecível tem apenas três frases e pronto. Além disso, o menino possui potencial para ser um futuro substituto, com sua inteligência e boas jogadas e piadas. No entanto, ele morre ali, e o restante é uma sequência de eventos previsíveis: Fuga de nazistas, pulo em um buraco, curiosidade histórica interessante, 'aqui aconteceu tal coisa em tal período', 'eu conheço este lugar', nova fuga de nazistas.



O destino do Jones

ATENÇÃO: Daqui para frente esta lotado de spoilers, para fugir deles basta pular para os Kelvinhos

O que é o destino? Qual é o destino de um herói? Morrer com glória em uma batalha ou viver tempo suficiente para ser esquecido e sofrer quando se afasta e perde as pessoas ao seu redor?

Cada herói tem seu destino, e cada momento traz consigo um desfecho único. Mas, e quanto a Indiana, o homem que desafiou nazistas e presenciou o inexplicável? Qual é o seu destino? E se existisse uma relíquia com o poder de modificar o curso do destino? Capaz de moldar o futuro conforme seus anseios?

Este deveria ser o ponto central do filme... No entanto, não é. Não se assemelha ao desfecho de 'O Reino da Caveira', onde havia uma abertura para passar o chapéu e embarcar em uma aventura pai e filho. Aqui, não; aqui nos deparamos com o momento da jornada do herói em que ele se encontra no fundo do poço, deprimido e sem ânimo para viver. Compreensível, afinal de contas, temos um Jones que se aposentou, um homem divorciado e consumido pelo luto eterno pela perda do filho no Vietnã.



O filme busca transmitir a sensação de ser a última grande aventura, junto com o sentimento de renovação, na qual Indiana Jones, sua afilhada e o menino com nome esquecível (embora ele tivesse um grande potencial de ser um sucessor) embarcam rumo ao desconhecido. Isso é muito interessante até certo ponto, digamos... nos primeiros 7 minutos, no momento em que Indiana encontra sua afilhada e logo se vê perseguido. No entanto, depois disso, a narrativa se transforma em uma desculpa para a jornada de "estou aqui para provar minha inocência e nada mais".


Uma história que tinha o potencial de ser bem desenvolvida ficou perdida, como o arco de Helena Shaw (interpretada por Phoebe Waller-Bridge), uma ladra de artefatos que, em sua jornada com Indiana Jones, poderia ter encontrado redenção. Não há uma razão sólida para Helena se tornar uma criminosa de artefatos e revendedora ilegal. Na verdade, o amor dela pela história e artefatos deveria tê-la mantido fiel à jornada da relíquia, mesmo com o ódio que sentia pela relíquia devido ao seu pai. A relação entre Indiana Jones e Helena tinha o potencial de ser uma ótima dinâmica mestre-aprendiz, porém, como tantos outros elementos, isso também foi mal explorado. A ênfase excessiva em Indiana Jones dificultou a exploração adequada de todos esses aspectos - nem a depressão, nem a reconciliação com a afilhada, e muito menos o ressurgimento foram efetivamente tratados. Na verdade, o ressurgimento é quase inexistente, já que a cada poucos minutos, Harrison Ford implora ao universo para permitir sua morte ou pede para alguém tirar sua vida (a cena com Arquimedes foi especialmente frustrante... EXTREMAMENTE FRUSTRANTE).

E a morte... ah, a doce morte... Aquilo que é procurado por todos quando a esperança acaba e a vontade de viver se vai... Eu quero relatar como isso é pessimamente explorado no filme! Com um filho morto, um divórcio, uma aposentadoria contra a vontade e um vizinho chato, por mais que Indiana Jones tenha começado a viver no automático após tudo isso, ele não fala sobre morte. No entanto, bastou andar 500 metros e pronto... vira suicida! Não é natural; é uma jogada ruim de roteiro. Surpreendentemente, temos James Mangold na direção e roteiro, o mesmo que dirigiu Logan, um filme que mostrou um Wolverine sem esperança e desiludido com a vida de maneira genial. Também temos Jez Butterworth, que trabalhou em "No Limite do Amanhã", e David Koepp, de "Guerra dos Mundos". São três roteiristas! E não são roteiristas comuns; são profissionais que contribuíram para obras que abordavam a superação e o retorno da esperança quando tudo parece perdido. No entanto, em nenhum momento eles perceberam o quão estranho seria um velho pensar em se jogar da ponte quase na reta final do filme?


Eu tive que conferir se realmente eram os roteiristas porquê... eu não sei explicar. Tudo no filme parece mal explorado, malfeito e perde o sentido 5 segundos depois. Eles enraízam tudo com história, tudo tem um fundo ou conhecimento histórico, mas nada é explorado. O filme tem como base "A Lenda do Tesouro Perdido", mas não segue o desenvolvimento do mesmo. Tudo é ignorado logo em seguida: Vietnam, Romanos indo para Grécia, Farol de Alexandria (aliás, como alguém descobriu tão rapidamente que era zueira?). Nada é desenvolvido; tudo é esquecido.

Lembra das perguntas no início deste tópico? Pois bem, o filme parece não saber explorar, querendo fazer "tudo ao mesmo tempo agora". Eles desejam o retorno do grande explorador que bate em nazistas, ao mesmo tempo em que o mostram deprimido pela perda do filho. Piscou, e já temos ele e uma aprendiz explorando o mar, mas logo em seguida, ele está de coração partido pelo divórcio e, por último, temos um pedido de suicídio... Eles criam o cenário para a superação; o personagem tem esperança, mas, sem explicação ou evento, tudo desmorona até o final do filme, por razões que só Deus sabe por quê. 

O meu ponto, após toda esta volta, é que a história se perde na exploração, não na narrativa dos eventos. Não é a história sendo contada que é ruim; são os personagens que estão sendo descartados a cada minuto que passa. Estragaram a Helena 5 ou 9 vezes, isso em um espaço de 20 minutos, desde "eu quero explorar a história", passando por "sou ladra de artefatos e artes" até "todos merecem saber o que é descoberto". O único acontecimento para todas essas mudanças em 20 minutos foi uma perseguição de Tuque Tuque
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Efeitos e Som de milhões (literalmente)

Quando a história enfrenta problemas, os efeitos especiais e o som se destacam com uma beleza inigualável, apresentando um CGI bem-feito, efeitos práticos maravilhosos, e efeitos sonoros com um timing perfeito, além de músicas que impactam o coração. Afinal de contas, o custo de 300 milhões precisa ser justificado, não é mesmo? E nesse aspecto, é justificado pela CGI inicial.

A ideia de usar CGI para rejuvenescer ou ressuscitar um ator não é novidade. Will Smith teve uma versão mais jovem criada em CGI em "Projeto Gemini", e em Velozes e Furiosos 7, utilizaram CGI para completar as cenas de Paul Walker após sua morte. O problema é que essa técnica sempre foi complicada, como exemplificado em "Projeto Gemini", onde o rosto em CGI do jovem Will Smith apresentou derretimento ou falhas em vários momentos. Em Velozes e Furiosos 7, para mascarar as imperfeições e adicionar realismo, recorreram a imagens já gravadas e dubles para as cenas restantes.

Outro fator que contribui para a jornada é a qualidade dos efeitos sonoros, como na parte mencionada acima, onde é possível ouvir os "clicks" da artilharia sem munição nas cenas seguintes. As explosões são agradáveis de se ouvir, e até mesmo na cena de perseguição do Tuque Tuque, é possível captar os sons animados da cidade, não apenas os veículos em questão (diferentemente de Missão Impossível, onde parece que existe apenas um veículo e sirenes ao fundo). Esses elementos combinados tornam o filme mais imersivo, porém, infelizmente, o roteiro e outras cenas não contribui para tornar a experiência do filme única.




Kelvinhos: 06/10Indiana Jones e a Relíquia da Nostalgia... Que não funciona

Há alguns anos atrás, mencionei sobre as ondas de revivals (vocês podem ler aqui... Já aviso que queimei minha língua com Caça Fantasmas Mais Além), um dos principais impulsos por trás das produções destes filmes foi o fator nostalgia, no entanto, o timing foi equivocado. O filme começou a ser produzido em uma época em que a nostalgia estava em alta, mesmo com grandes fracassos como Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, tivemos também sucessos bilionários como Jurassic World, que gerou uma trilogia.

 

Embora o filme não tenha sido feito às pressas, o roteiro, mesmo falho, apresenta muitas referências históricas, demonstrando um esforço na abordagem do lado historiador de Indiana. No entanto, o filme perdeu o timing quando a nostalgia estava no auge. Certamente, se tivesse sido lançado na época de Jurassic World, teria capturado um público muito maior pela nostalgia. Atualmente, é difícil prever um sucesso além, dada a fragilidade do roteiro e suas confusões. Espero que daqui a 10 anos tenhamos um sucessor digno para nosso Indy, mas, por enquanto, só podemos observar um grande potencial de filme perdido


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